As cartas e pergaminhos dos apóstolos estiveram por um bom tempo espalhadas em várias localidades. Como, quando e por quem as escrituras foram juntadas formando a Bíblia do Novo Testamento?
A formação do Novo Testamento, como o conhecemos hoje, foi um processo complexo que se desenrolou ao longo de vários séculos. Aqui está uma visão geral de como, quando e por quem as cartas e pergaminhos dos apóstolos foram juntados para formar o Novo Testamento:
Como Foram Juntados
Escrita e Circulação Inicial:
- Epístolas de Paulo: As cartas de Paulo foram algumas das primeiras a serem escritas (por volta dos anos 50-60 d.C.) e circuladas entre as primeiras comunidades cristãs.
- Evangelhos: Os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João foram escritos entre os anos 60 e 90 d.C. e também começaram a circular entre as igrejas.
- Outros Escritos: Outras epístolas e escritos, como as cartas de Pedro, João, Tiago, e o Apocalipse de João, também foram escritos e distribuídos.
Uso nas Comunidades Cristãs:
- Esses escritos eram lidos publicamente nas igrejas e usados como instrução e edificação espiritual. Eles eram considerados autoritativos e inspirados pelos primeiros cristãos.
Coleções Iniciais:
- As igrejas começaram a fazer coleções desses escritos. Por exemplo, as cartas de Paulo foram reunidas e copiadas, formando um conjunto que as igrejas consideravam muito importante.
- Da mesma forma, os Evangelhos começaram a ser agrupados e reconhecidos como relatos autênticos da vida e ensinamentos de Jesus.
Quando Foram Juntados
Século II:
- Já no século II, vários escritos do Novo Testamento eram amplamente reconhecidos e usados. Pais da Igreja, como Irineu de Lyon (c. 130-202), mencionam e citam muitos desses escritos.
- Marcião de Sinope (c. 85-160) tentou criar um cânon próprio, aceitando apenas uma versão editada do Evangelho de Lucas e dez epístolas de Paulo, o que levou a igreja a reafirmar a importância de outros escritos.
Século III:
- A igreja começou a tentar resolver as divergências sobre quais livros deveriam ser incluídos no cânon. Orígenes (c. 184-253) e outros teólogos discutiram e escreveram sobre os livros que consideravam autoritativos.
Século IV:
- O processo de canonização acelerou. Em 367 d.C., Atanásio de Alexandria, em sua carta festal, listou os 27 livros do Novo Testamento que reconhecemos hoje, dando um passo importante para a canonização formal.
- Os Concílios de Hipona (393) e Cartago (397 e 419) confirmaram essa lista de 27 livros.
Por Quem Foram Juntados
- Líderes da Igreja e Pais da Igreja:
- Líderes da igreja primitiva, como Irineu, Orígenes, Atanásio e outros, tiveram um papel crucial em reconhecer, discutir e defender os escritos que consideravam inspirados.
- Concílios da Igreja:
- Os Concílios de Hipona e Cartago foram decisivos na formalização do cânon do Novo Testamento.
- Escribas e Copistas:
- Os escribas e copistas também desempenharam um papel vital ao preservar, copiar e distribuir esses textos entre as comunidades cristãs.
Conclusão
O Novo Testamento, como o conhecemos, foi formado através de um longo processo de escrita, circulação, uso comunitário, coleta e discussão, culminando nos séculos IV e V com a formalização do cânon. Este processo envolveu muitos líderes da igreja e comunidades cristãs que, sob a orientação do Espírito Santo, reconheceram e confirmaram os escritos que hoje compõem o Novo Testamento.
O que Diz a Bíblia?
Escrita e Circulação Inicial
Epístolas de Paulo:
- 2 Pedro 3:15-16: “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; como também em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição.”
- Contexto: Este trecho destaca que as cartas de Paulo eram reconhecidas e respeitadas entre as primeiras comunidades cristãs, sendo consideradas Escrituras.
Evangelhos:
- Lucas 1:1-4: “Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde a sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído.”
- Contexto: Lucas explica a motivação e o método usado para escrever seu Evangelho, indicando a intenção de fornecer um relato preciso e ordenado dos acontecimentos relacionados a Jesus.
Uso nas Comunidades Cristãs
- 1 Tessalonicenses 5:27: “Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os irmãos.”
- Contexto: Paulo instrui que sua carta seja lida publicamente nas igrejas, evidenciando o uso comunitário e a autoridade de seus escritos.
Coleções Iniciais
Cartas de Paulo:
- Colossenses 4:16: “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses; e a dos de Laodicéia lede-a vós também.”
- Contexto: Paulo orienta a troca de cartas entre diferentes igrejas, sugerindo o início de uma coleção e circulação de seus escritos.
Evangelhos:
- 1 Timóteo 5:18: “Porque a Escritura diz: Não amordaçarás o boi, quando debulha, e: Digno é o trabalhador do seu salário.”
- Contexto: Paulo cita Deuteronômio e o Evangelho de Lucas, mostrando que os evangelhos estavam sendo usados e reconhecidos como Escritura.
Século II e III
- 2 Clemente 14:2: “Os apóstolos pregaram-nos o Evangelho da parte do Senhor Jesus Cristo; Jesus Cristo foi enviado por Deus. Cristo, portanto, foi de Deus e os apóstolos de Cristo… para que a pregação pudesse ser realizada pela vontade de Deus.”
- Contexto: Um exemplo de como os escritos dos apóstolos foram vistos como autênticos e autorizados pela comunidade cristã primitiva.
Século IV
Atanásio de Alexandria:
- Carta Festal de 367 d.C.: Atanásio menciona explicitamente os 27 livros do Novo Testamento que reconhecemos hoje.
- Contexto: A lista de Atanásio representou um passo significativo na canonização do Novo Testamento, refletindo um consenso emergente sobre quais escritos eram inspirados.
Concílios de Hipona e Cartago:
- Concílio de Cartago (397 d.C.): “Item, foi decretado que, além das Escrituras canônicas, nada deve ser lido na igreja sob o nome de Escritura divina. Mas as Escrituras canônicas são estas: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, os quatro livros dos Reis, os dois livros dos Crônicas, Jó, o Saltério, os cinco livros de Salomão, os doze livros dos profetas, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, Esdras, e os dois livros dos Macabeus.”
- Contexto: Este decreto reafirma a lista dos livros que formariam o cânon do Novo Testamento.
Conclusão
Reconhecimento da Inspiração e Autoridade:
- 2 Timóteo 3:16-17: “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.”
- Contexto: Este versículo reafirma a inspiração divina das Escrituras e sua utilidade para a instrução e edificação espiritual, fundamentando a autoridade dos textos que compõem o Novo Testamento.
A formação do Novo Testamento foi um processo longo e complexo, envolvendo a escrita, circulação, uso comunitário, coleta e discussão dos escritos, culminando nos séculos IV e V com a formalização do cânon. Este processo foi guiado por líderes da igreja e comunidades cristãs que, sob a orientação do Espírito Santo, reconheceram e confirmaram os escritos que hoje compõem o Novo Testamento.
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